
Em vaga expectação, mudos e moucos,
os solares sem tempo rememoram:
as silhuetas ideais já não afloram,
furtivamente, aos peitoris barrocos.
Os longes campanários se descoram:
a noite plena vem tomando aos poucos.
Sopram sobre a laguna ventos roucos.
Transfigura-se o mundo. As almas oram.
De súbito a um lampejo de lanterna
o silêncio na noite se prosterna,
o canal freme de êxtase ôndula a ôndula:
e sob o arco da ponte grave e queda,
deslizando na líquida alameda,
como uma sombra n’água passa a gôndola.
Tasso da Silveira
Poemas de Antes – 1.966 –
Nenhum comentário:
Postar um comentário